De Córdoba ao Brasil: Universidade, comunidade e a "via de mão dupla" na extensão universitária.
- Martins, Fernando José (UNIOESTE)
- Aleixo, Antonio Carlos (UNESPAR/UNIOESTE)
O propósito deste trabalho é apresentar o recorte de uma investigação que estamos realizando no interior das relações entre a Reforma Universitária de Córdoba (1918) e seus possíveis efeitos ou suas influências nas universidades latino-americanas, especificamente no tópico “extensão universitária” das universidades brasileiras. Diferentemente dos demais países da região (Colômbia, Peru, Cuba, Chile, Uruguai), cujos movimentos reformistas praticamente propunham as mesmas reivindicações e demandas pautadas no “estalido” de 1918 e anos seguintes, no Brasil, dadas as condições históricas de criação de suas primeiras universidades, a plataforma de Córdoba só produziria efeito no final da década de 1950 e início de 1960, momento mais ativo do movimento universitário brasileiro, no conjunto das lutas pelas reformas de base. Até aquele momento, a história da extensão universitária, no país, pode ser considerada periférica e inexistente, se comparada às preocupações com pesquisa e ensino. Durante as duas décadas de ditadura cívico-militar, a extensão universitária brasileira realizou-se, funcionalmente, assistencialista, até que, após 1980, escoradas no ambiente de democratização da sociedade brasileira, as universidades públicas elevaram-na à condição de mecanismo auxiliar aos serviços públicos e à própria alteração do conceito de universidade. Uma das demandas internas dos fóruns, seminários e encontros foi, a partir do ano 2001, a curricularização da extensão, no limite mínimo de dez por cento em créditos. Com a finalidade de analisar as correlações temáticas entre universidade/comunidade que percorreram o século XX, em nosso continente, após 1918, escolhemos, como objeto, o parecer que trata das diretrizes atuais para políticas de extensão da educação superior brasileira. Metodologicamente, recorremos à produção bibliográfica e documentos inaugurais relativos à Reforma de Córdoba, para extrair os conceitos e significados do que seria a prática extensionista continental, na década de 1920, além dos documentos atuais que regimentam a extensão no Brasil. A análise nos levou à conclusão de que as demandas inauguradas pelos reformistas cordobeses seriam ressignificadas, no Brasil, aproximadamente 60 depois. Ainda que a expressão não apareça de forma explícita, no parecer analisado, subjaz o ponto de vista de que a extensão universitária é uma “via de mão dupla”, a irrigar a relação universidade-comunidade, cujo fundo ideológico encontrava-se já naquele início de século XX latino-americano.